domingo, 29 de março de 2009

Envelhecer Ativo

Um texto interessante, que vale a pena parar para ler! Aproveitem...


Aceitar as limitações corporais trazidas pelo tempo facilita mover-se antes nas ações preventivas.

Nossa identidade é uma construção que se inicia a partir do corpo e se estende com a percepção - com o passar dos anos, cada vez mais profunda - de que constituímos uma unidade psicofísica. Toda transformação interior acaba se refletindo no corpo e esta concepção vai se tornando tão clara quanto melhor aceita, reverberando intensamente em nossa qualidade de vida.


A partir da quarta ou quinta década, muitas vezes, aqueles indivíduos que se recusam a adotar medidas preventivas para minimizar as modificações que lhe sucedem, pagarão um preço bastante alto mais adiante. Essa compreensão é muito importante, salienta o doutor em Medicina da Educação Física e do Esporte, Francisco Rosa Neto, pois está associada a diversas ocorrências desastrosas ao longo do envelhecimento do ser humano, principalmente, nas decisões e atitudes de idosos que não respeitam os ´sinais do corpo´.


Mapa Corporal: O corpo, de fato, sinaliza claramente o tempo todo quanto ao limite de esforço físico e aqueles que extrapolam, posteriormente, acabam por sofrer as conseqüências dessa conduta, esclarece Rosa Neto, organizador da obra ´Manual de Avaliação Motora para a Terceira Idade´, que está sendo lançada este mês pela Artmed .´Entendo que, quando falamos de identidade, estamos nos referindo a um contexto de eventos bem mais amplo que somente o biológico (o corpo), apesar deste ser determinante no processo. A identidade de uma pessoa envolve, tanto fatores físico-motores, como sócio-emocionais e cognitivos. Mas, é claro, que o conceito de corpo de cada um atua como uma referência, um tipo de eixo central para a personalidade´. O coronel reformado, Leo Sá Brito, 83, e sua esposa, Raquel, 69, ambos terapeutas holísticos, têm um ritmo de atividade física diária que deixa perplexa qualquer pessoa com décadas a menos do que os dois. Alternam, ao longo da semana, alongamento, hidroginástica, musculação e caminhadas, tanto na praça próximo à sua residência, como na praia. O casal ainda complementa com sessões de massagem, aulas periódicas de dança de salão (tango, bolero) e, ainda por cima, como Leo é faixa preta em judô, também se exercita com aulas adicionais nesta modalidade. Raquel diz que o marido é seu grande motivador para manter esse ritmo, com grande vigor e saúde. Mas admite que, às vezes, ele exagera um pouco, quando pratica duas horas de exercícios físicos, diariamente.


Dr. Rosa Neto ensina que a concepção do próprio corpo, encontra-se diretamente relacionada à auto-estima do indivíduo, bem como em todas as decisões que toma em seu dia-a-dia. Daí o exemplo positivo do casal Sá Brito. O especialista explica que há uma área no cérebro (denominada de giro pós-central do córtex) responsável por uma espécie de ´mapa corporal´, associada a outras áreas adjacentes (lobo parietal), as quais recebem e processam todas as informações sensoriais relacionadas ao corpo, ao longo de toda a vida, formando um verdadeiro ´esquema corporal´. Para qualquer decisão e/ou comportamento do indivíduo, esta referida área é acionada e ´informa´ o cérebro sobre as condições do corpo, não apenas em relação à sua integridade, mas também no que se refere à sua posição e condições físicas no momento, ´avisando´, sobretudo, se é ou não possível realizar a ação pretendida. O médico do esporte exemplifica com a fase típica desastrada da adolescência, bem conhecida, em que os jovens esbarram, quebram, derramam tudo por onde passam. Isso ocorre porque, até a puberdade, o indivíduo cresce em média entre cinco e seis centímetros por ano, de forma estável.


A partir daí (em torno de 11 anos para as meninas e 13 para os meninos), passa a crescer entre nove e 11 centímetros por ano (por, pelo menos, dois anos). ´É mais ou menos a velocidade com que crescem nossos cabelos, ficando impossível para aquela área do cérebro mencionada, processar e acomodar as mudanças do corpo tão rapidamente quanto essas alterações físicas´. Na adolescência, diz , o cérebro toma decisões (ações motoras) com base nos arquivos de um ´mapa corporal´em geral desatualizado. O resultado é visível. CONTRASTE: 200 anos de sedentarismo e acomodação de nossa dimensão física se chocam com os 70 mil anos anteriores de atividade motora intensa.


Opção de novo estilo de vida: Estabelecendo-se um paralelo entre adolescente e idoso, observamos que este passa por alterações físicas e motoras gradativas. Com isso, seu cérebro tem tempo de processar as mudanças e acomodá-las. Os ´sinais´ do corpo, avalia o médico Francisco Rosa Neto, são conhecidos pela pessoa madura. Os que rejeitam a idéia de diminuir gradativamente a intensidade de suas ações físicas, adaptando-se aos novos parâmetros do seu estado de saúde, acabam sofrendo com essa escolha.


Indivíduos mais maduros que, quando doentes, extrapolam os limites de esforço físico, acabam adquirindo diversas seqüelas físicas, explica Rosa Neto. São comportamentos ´irresponsáveis´, mais comum nos homens. Desde a sua origem, o ser humano dependeu da atividade motora para alimentar-se, comunicar-se, procriar, explorar, entre outras coisas. A própria hominização (evolução à forma humana), deu-se ao longo de milhões de anos, graças à ampliação do repertório motor e da exploração (por meio da motricidade) cada vez mais especializada do ambiente, recorda-nos o especialista.


Precisão e maestria: O médico acha ser oportuno refletir alguns fatos que dão ênfase à importância da atividade motora na vida humana. Remete ao advento da Revolução Industrial, lembrando ter sido este de transformação radical que transformou a vida do homem, com as grandes concentrações urbanas e a proliferação das tecnologias. O sedentarismo - deixar tudo sempre ao alcance da mão, sem esforço - veio como conseqüência. ´Após 70 mil anos correndo nas savanas, passamos os últimos 200 anos numa completa estagnação. Soma-se a isso a mudança radical de hábitos alimentares e ingestão de substâncias nocivas, de diferentes procedências, que desencadearam processos patológicos de todos os tipos´. A inatividade, a seu ver e de muitos outros estudiosos da área do movimento, fez e continua fazendo o humano adoecer. Pesquisas atuais revelam os benefícios da atividade motora: para o coração, circulação, digestão, cérebro, entre um rol interminável de vantagens.Para o idoso, que luta para retardar a senescência, afirma Rosa Neto, a atividade motora é a melhor maneira para envelhecer com saúde, prolongando a ótimos níveis sua qualidade de vida. ´O que é educativo na atividade motora não é a quantidade de trabalho efetuado nem o registro (valor numérico) alcançado, mas o controle de si mesmo, obtido pela quantidade de movimento executado, isto é, a precisão e a maestria de sua execução´.


Fonte: ROSE MARY BEZERRA

Um comentário:

  1. Muito interessante a matéria que fala da saúde física e mental do corpo à medida que ele envelhece!A importância da prática de exercícios como fator primordial para um envelhecimento saudável.
    Um toque especial a todos que tem a dança como atividade física.Fale a pena ler a reportagem!

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